Ao término dos três dias da reunião do comitê de emergência para a zika, organizado pela Organização Mundial de Saúde nesta quarta-feira (9), uma das conclusões é que os métodos usados até aqui no combate ao principal vetor da doença –o mosquito Aedes aegypti têm sido ineficazes.
O uso de inseticidas não "teve impacto significativo no controle da transmissão da dengue e isso também deve ocorrer com a zika", explicou MariePaule Kieny, diretora da OMS, em entrevista na sede da organização.
Para os especialistas da OMS, diante desse quadro, é preciso investir em métodos alternativos para a redução da população de mosquitos, como o uso de mosquitos geneticamente modificados para conter o surto ou a infecção desses insetos com uma bactéria –wolbachia– que os torna inférteis.
Essas experiências, porém, devem ser conduzidas com "extremo rigor". Kieny ressalta ainda que, enquanto esses novos métodos não forem validados, a organização recomenda a utilização dos inseticidas já conhecidos no combate ao Aedes aegypti.
O trabalho de conscientização com as populações locais também é essencial para o sucesso do combate ao mosquito, indica Kieny.
A organização informou ainda que o Comitê de Emergência estabeleceu três prioridades: desenvolver testes para detecção de dengue, chikungunya e zika, doenças transmitidas pelo aedes, desenvolver vacinas de proteção baseadas em vírus nãovivos para mulheres em idade fértil, e ferramentas inovadoras para combater os mosquitos que transmitem as doenças.
Na próxima semana, especialistas da OMS voltarão a se reunir para discutir sobre os melhores métodos para tentar conter o avanço dos vetores da zika.
TARDE DEMAIS
Atualmente, 67 companhias e institutos de pesquisa em todo o mundo trabalham no controle da epidemia de zika. Desse total, 31 dedicamse a métodos de diagnóstico, 18 ao desenvolvimento de vacinas, 8 ao tratamento da doença e 10 ao controle do mosquito.
Segundo Kieny, a boa nova é que a troca de informações entre os pesquisadores tem sido muito mais dinâmica que durante a epidemia de ebola na África.
Quanto ao lançamento de uma vacina, no entanto, a diretoraadjunta da OMS é menos otimista. Ela afirma que um produto bem sucedido pode chegar "tarde demais" para a América Latina. "Nenhuma vacina ou terapia [específica para a zika] foi testada ainda em humanos", declarou Kieny.
A prioridade da OMS é a de desenvolver uma vacina que possa ser aplicada em mulheres em idade fértil ou mesmo gestantes.
Jorge Kalil, presidente do Instituto Butantan em São Paulo, disse, em Genebra, que o instituto trabalha com um projeto de vacina contra a zika com "vírus enfraquecido", o que possibilitaria testes clínicos mais rápidos em mulheres em idade fértil e em gestantes, que são a prioridade da OMS. Mas, para uma vacina viável, é necessário "muito tempo" de testes e pesquisas.
"Achamos que a epidemia de zika vai durar dois ou três anos na América Latina. Em seguida, deve, provavelmente, desaparecer porque a maioria das pessoas já vai ter entrado em contato com o vírus. Mas tende a reaparecer alguns anos". Ainda segundo Kalil, "em menos de um ano o instituto poderá passar para a fase de testes clínicos e, em três anos, uma vacina estaria pronta".
Quanto aos recursos necessários para acelerar a pesquisa no Brasil, o presidente do Insituto Butantan afirmou: "Volto para casa com muitas propostas". Agências nos Estados Unidos e na Europa, destacou, mostraram interesse na pesquisa do instituto brasileiro.
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